ESCOLHIDOS A DEDO
Só para a edição deste ano, concorreram mais de três mil pessoas para apenas 186 vagas. Para Vera Sousa Macedo estes números têm uma explicação simples: "estamos num mercado de trabalho global, com maior abrangência e acessibilidade, e as pessoas querem ter uma carreira que não se cinja ao território nacional e testar a sua capacidade e disponibilidade para trabalhar no estrangeiro". A procura tem sido constante ao longo dos anos, mas a taxa de integração dos candidatos desde 1997 não chega a seis por cento. Os limites orçamentais e a escassez de recursos para a organização do programa estão na base deste problema.
É por isso que o ICEP contrata uma empresa de selecção e recrutamento privada para fazer uma filtragem minuciosa das candidaturas. A avaliação dos jovens vai desde uma entrevista presencial a testes linguísticos por telefone, passando por dinâmicas de grupo, para escolher as pessoas com um perfil mais adequado a esta experiência. "Ambição, espírito de iniciativa e trabalho em equipa" são características mais valorizadas nesta fase, diz Vera Sousa Macedo.
Pedro Matos foi um dos jovens que se conseguiu destacar na edição de 2005/2006. Aos 23 anos e com uma licenciatura em gestão de empresas na mão, decidiu candidatar-se ao Inov Contacto, por sugestão da irmã. "Já era o segundo ano que ela estava a tentar e tínhamos esperança de entrar os dois", conta. Daí a meio ano estavam ambos a fazer as malas para o Brasil.
Pedro acredita que o facto de ter realizado uma análise financeira na faculdade sobre a Cimpor, mais tarde premiada pela editora Vida Económica, esteve na base da sua selecção. E, desde que chegou a São Paulo, tem-se esforçado por "aprender tudo o que pode e dar tudo o que tem à empresa" de materiais de construção, afirma. Está "muito satisfeito" com a integração na Cimpor e aplaude também o acompanhamento do ICEP no processo.
Mas nem todos os processos de integração correm tão bem. O número de desistência por edição é muito baixo (entre uma a duas pessoas), mas há registos de mudança de empresa durante o estágio. Pedro Matos conhece alguns. "Custa ver colegas meus deixados ao abandono pelas empresas. A gratuitidade de participação no programa pode levar ao desperdício", acredita.
REDE DE TALENTOS
A taxa de integração de estagiários nas empresas participantes é de XX por cento (ICEP envia dado na segunda-feira). Até agora, o Grupo Amorim, a Logoplaste, o BES e a COBA são as entidades que mais jovens têm contratado. As mais-valias são evidentes: além de terem acesso a recursos humanos extensivamente seleccionados, com um perfil adequado às suas necessidades e a custo zero, por um período de nove meses, ainda podem reter talentos já familiarizados com o funcionamento da empresa. O Grupo Amorim está ligado ao Inov Contacto desde a primeira edição e integrou cerca de 70 por cento dos estagiários nas suas empresas, sobretudo em funções relacionadas com o negócio no estrangeiro. António Carlos Almeida, director de recursos humanos da Amorim Imobiliária, garante que "95 por cento dos casos foram boas experiências" e que estes jovens demonstram "ambição alta, foco na internacionalização e forte capacidade técnica". O BES seguiu o mesmo raciocínio quando decidiu contratar Henrique Relógio. Licenciado em gestão de empresas, este jovem, actualmente com 26 anos, foi seleccionado para a delegação do banco em Nova Iorque, nos Estados Unidos, na edição do Inov Contacto de 2003. A adaptação ao mercado financeiro norte-americano correu tão bem que foi convidado pelo banco a assumir o cargo de gestão de grandes contas internacionais, em Lisboa. Mostra-se "bastante satisfeito" com a possibilidade que o BES lhe ofereceu e diz estar "preparado e interessado" em voltar para o estrangeiro "caso o banco precise".
UM BOM PONTO DE PARTIDA
Mas mesmo os que não conseguem ficar na empresa onde estagiam acabam por ter no Inov Contacto uma boa rampa de lançamento. "O facto de serem escolhidos para integrar o programa e de passarem por uma experiência internacional, normalmente num sítio com nome, abre-lhes logo imensas portas onde não conseguiriam chegar tão rapidamente", assegura Vera Sousa Macedo. Foi o que aconteceu com Rita Duarte. Fez parte da primeira edição do Inov Contacto e a sua carreira começou a definir-se a partir do momento em que estagiou na delegação do ICEP, em São Paulo, no Brasil. Continuou esse trabalho quando regressou a Portugal, dedicando-se sobretudo à área da promoção turística. Três anos e meio depois, com a reestruturação do organismo, passou para a Direcção Regional de Turismo, graças ao trabalho que tinha desenvolvido até então. E, agora, aos 30 anos de idade, faz assessoria no Ministério da Economia. "Como já conhecia bem a realidade do sector público fizeram-me este convite. Comecei com um bom pé e as coisas foram aparecendo", explica Rita Duarte. A rede de contactos que este programa proporciona é um dos seus bens mais valiosos. Após a participação no Inov Contacto, mantêm-se ligados a uma rede de oportunidades, a que muitos outros não têm acesso. No caso de Rita, essa oportunidade estendeu-se à vida privada. Um dos estagiários que entrou na primeira edição do programa é agora seu marido e muitos outros continuam a fazer parte do seu grupo de amigos. "O Inov Contacto não pode ser visto apenas como uma bolsa financeira. É um mundo de oportunidades e de conhecimentos que podem ser úteis para o resto da vida", diz Vera Sousa Macedo. A coordenadora do programa não faz contas às despesas do programa. Entre a contratação da empresa de selecção e recrutamento, as bolsas, os salários dos professores, as viagens e os portáteis atribuídos a cada estagiário, gasta-se "muito dinheiro", diz. Do total, 75 a 80 por cento é financiado pela Comunidade Europeia e o restante pelo Estado português, isto é, pelos contribuintes.