terça-feira, maio 16, 2006
Primeiro contacto com um "Muttawa"
Domingo (ou seja um dia de semana normal) depois do trabalho combinei ir ao centro comercial da Al-Faisalia com a Maria e 2 Colombianos passear e fazer compras, o que em qualquer país do mundo seria uma coisa perfeitamente normal mas aqui é uma autêntica aventura. A partida já estamos a cometer algum tipo de ilegalidade aos olhos dos sauditas, pois estamos a sair juntos e no mesmo carro 3 homens solteiros com uma mulher casada e sem o marido dela. Quando chegamos ao centro da cidade por volta das 18h apercebemo-nos que estamos em plena hora de oração, ou seja, tudo fechado durante 45 minutos, optamos por esperar dentro do carro no fresco do ar condicionado.
Depois de algumas voltas no paraíso das compras que é a Olaya (uma das avenidas principais) fomos então para o centro comercial e quando chegamos “voi-la”, estamos outra vez na hora da oração, mais 45 minutos de espera, mas estes foram uma aventura. No centro durante a oração todas as lojas e restaurantes fecham, os homens dirigem se para umas mini mesquitas que há ao lado das casas de banho e as mulheres como não podem rezar em publico sentam-se nos bancos e esperam. A determinada altura o cenário é o seguinte: um centro comercial fechado, com uns cânticos árabes como banda sonora, centenas de triângulos pretos sentados nos bancos e nós… A Maria com a sua abaya e nós vestidos de forma bem colorida a passear pelo centro a olhar para as montras das lojas, sempre que passamos ao lado de um grupo de triângulos negros viram-nos as caras ou cobrem se ainda mais, mas nós divertidos com a situação. Mas a determinado momento começamos a ouvir uns gritos muito agressivos, “Salamm, salamm”(rezar), era um “muttawa” os policias religiosos que normalmente vêm acompanhados por um policia e outros religiosos. Os “muttawas“ distinguem-se pelas suas longas barbas, um véu preto e dourado por cima da toga um pouco mais curta que o normal. Automaticamente a Maria afasta se de nós e actua como se não nos conhecesse, o muttawa grita com toda a gente e obriga as lojas mais atrasadas a fechar as suas portas. Fingimos que não conhecemos a Maria e continuamos a olhar para as montras mas sempre discretamente de olho no “muttawa” com esperanças que não sobre para nós. De repente sai do elevador um grupo de jovens sauditas da nossa idade que não deviam estar com muita vontade de rezar e foram surpreendido pelo polícia que acompanha o “muttawa” e leva-os até ele. Não percebi o que se estava a passar, mas boa coisa não era., quando os voltei a ver já estavam a sair escoltados pelo polícia e os religiosos.
Confesso que foi um momento com muita tensão pois ouvem-se regularmente histórias sobre o poder dos muttawas e apesar de não costumarem embirrar muito com os ocidentais caso não estejamos a cometer nenhuma “ilegalidade”.
Depois de esta aventura fomos brindados com uma belíssima refeição na zona das famílias (um privilégio pois estávamos com a Maria), nesta zona misturam se homens e mulheres, mas ainda assim cada mesa tem uns biombos, e as poucas sauditas que lá estavam fecham-se dentro de eles para poderem descobrir as suas caras e comer à vontade.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
e esses senhores tb n deviam estar a rezar? quem controla os Muttawas?
João, este teu blog é um espetaculo de informação. Espero q n te canses de o ir actualizando.
Beijinhos
Francisca@Bcn
quando comecei a ler o teu relato ri-me, mas depois de pensar um pouco mais não tem de facto piada nenhuma!!! a minha mente ocidental não consegue de modo nenhum lá chegar e entender tamanho extremismo principalmente no que diz respeito ao tratamento das mulheres ou direi nessa maneira "estranha" de pensar... as coisas...
bjnhs
ola joao so agora vi o teu blog. sabes me informar se actualmente ainda é assim
Enviar um comentário